Viver com uma pessoa depressiva nem sempre é tarefa fácil, ainda mais se essa pessoa é sua mãe. Requer paciência, determinação e muito sangue frio.
Minha mãe sempre foi minha heroína, sabe? Eu a amo profundamente, a admiro como a pessoa mais brilhante e indepentente que conheço, e confio no julgamento dela acima do de todos. Portanto, abracei a causa de mantê-la sã com afinco. Mas, sinceramente, eu simplesmente não consigo mais estar no mesmo cômodo que ela, sem sair correndo em direção ao meu quarto para me desabar em lágrimas.
Para ela, que além da depressão, possui transtorno bipolar, insuficiência renal, doenças cardíacas, pressão alta, obesidade mórbida desde que nasceu, recentemente recuperou-se de um câncer no estômago e está entrando na menopausa - assim tendo TPM duas vezes por mês - todos os sentimentos se apresentam à tona, como em um tsunami, e a mínima coisa é motivo para um alteração em sua escala Richter interior.
No entanto, quem vê a situação de fora, pensa que só a pessoa doente é que sofre. Não é verdade. Assim, quem sofre silenciosamente somos eu e meu pai, o qual também possui um bocado de problemas de saúde. Nós procuramos aguentar tudo sem reclamar, não responder às provocações, às dolorosas e ásperas palavras proferidas pela boca dela, não mostrar reação ao sermos agredidos - verbal e até fisicamente -, pois temos ciência de sua condição.
Porém, ultimamente, me sinto indisposta a dar prosseguimento à essa extenuante tarefa com a qual fui incumbida, irrevogavelmente, desde o dia que nasci.
Não dá pra dizer que eu realmente tive uma infância. Porém, não me refiro à infância no sentido material. Quer dizer, meus pais nunca permitiram que eu tivesse nada aquém do melhor, sobre isso eu nunca poderei me queixar; meu quarto, por exemplo, parecia mais uma loja de brinquedos do que um quarto normal.
Me refiro à infância psicológica. Acredito que fui criança por muito pouco tempo, pois desde cedo fui apresentada à dura realidade ao meu redor e tive de carregar um fardo com o qual muitos adultos não conseguiriam lidar. É importante ressaltar que o fardo não é minha mãe, mas sim sua condição atual.
Não posso me queixar da postura dela como mãe. Ela faz tudo por mim e sei que me ama, por mais que sua condição a impeça de demonstrar afeição por mim e por minhas ações. E é justamente essa falta de afeto e de reconhecimento que arrasa comigo.
Faço tudo para que ela se orgulhe de mim, mas parece que nunca é suficiente. Sou uma aluna-modelo, tenho o namorado que todas as mães se orgulhariam em ter como genro, procuro ajudá-la no que puder, nunca bebi ou fumei, não saio para baladas, não me visto vulgarmente, etc. Mas parece que ela sempre encontra falhas para apontar e sobre as quais discorrer incansavelmente. E eu estou cansada, simplesmente extenuada.
A cada nova repreenda, mais energias são exauridas de meu corpo, e ao mínimo olhar de escárnio, sinto o choro entalado em minha garganta, suplicando para se manifestar. Ironicamente, constato que, gradativamente, estou ficando igual à ela. E isso é assustador.
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