terça-feira, 7 de setembro de 2010

Independência de quê mesmo?

Visitando as salas da terceira série em minha escola para dar um aviso a pedido da diretoria, presenciei a seguinte cena: faltando quinze minutos para as dez horas da manhã, podia-se ver claramente a ansiedade pelo intervalo estampada no rosto dos pequenos. Sinto vontade de sorrir.... É tão bom estar nesse momento da vida, penso eu. Época de descobertas, em que simples e pequenos prazeres são suficientes para transformar todo o dia, mesmo que não reconheçamos ao vivenciar isso; pois, nessa idade, o que mais queremos é virar "gente grande" logo.
 Saindo de meus devaneios e lembrando que tenho um aviso para dar, vejo que a "prô" está falando sobre o significado do dia 7 de setembro e decido não interrompê-la, comovida pelas lembranças que aquela cena evoca. Ao que ela questiona se alguém sabe responder de forma contundente o que aconteceu naquele dia para que fosse declarado feriado nacional, para a minha surpresa, o silêncio se instala sobre os alunos. Alguns, percebo, olham um tanto constrangidos para a mestra por não saberem a resposta e, outros, nem se dão ao trabalho e ficam olhando impacientemente para seus celulares (celulares nessa idade!!!), aguardando o relógio anunciar dez horas.
 Com um suspiro resignado, a professora começa a explicar que houve um homem chamado D. Pedro I que, no dia 7 de setembro de 1822, gritou, às margens do Rio Ipiranga: Independência ou Morte! e, que, a partir daquele momento, o Brasil não mais seria uma colônia portuguesa. À essa declaração, duas perguntas surgiram: o que era uma colônia e se esse tal Pedro carregava uma espada brilhante junto a ele.
 A cena de fato seria cômica se não escancarasse a lacuna existente na educação de nossas crianças desde o jardim (ou seja lá como estejam chamando agora; a deficiência das escolas que deveria ser mudada, não os nomes). Não é culpa dos educadores....E muito menos dos alunos por não saberem a resposta. A culpa reside no brasileiro em geral, que coloca nos mais altos postos de nossa esfera política retardatários adeptos da política do pão e circo e aceita de bom grado, se tiver liberdade de expressão para poder reclamar depois, o caos pintado por esses no quadro da sociedade brasileira.
 Mas, voltando a história, assim que a professora, ao perceber a minha presença, permitiu que eu transmitisse a mensagem a mim incumbida, o relógio acima do quadro anunciou dez horas e o sinal para o intervalo soou. Os meninos saíram apressados com seus carrinhos, em uma discussão calorosa sobre o Manchester.
 Saí de lá um tanto abobalhada admito, comparando a minha realidade aos 7 anos de idade à deles agora. Então, sigo para a biblioteca e, encontrando um grupo de amigas, aproximo-me, embora minha única intenção fosse me camuflar para que pudesse refletir e analisar aquilo de forma mais aprofundada. Apenas assentindo quando solicitada, muito vagamente participei da conversa e pouca atenção lhes dei em um primeiro momento...Contudo, através de fragmentos de falas, compreendi sobre o que estavam a discorrer e então passei a escutar atentamente.
Primeiramente, estavam falando de perfumes importados, bolsas Prada e sapatos Jimmy Choo. Depois, fulana falou que sua prima estava morando na Inglaterra e que havia lhe enviado de lá vários presentes. Já ciclana começou a falar que seus primos haviam acabado de chegar da Alemanha, pois, como todos sabiam, ela era descendente de alemães. Aí, beltrana já começou a falar de sua descendência italiana e assim por diante.

Foi então que cheguei a uma constatação bem óbvia: ninguém no Brasil é brasileiro. Todos são italianos, alemães, poloneses, árabes....E mesmo se apenas o tetravô tiver vindo de algum outro país, ainda se consideram estrangeiros na terra que habitam. Teoricamente, se você nasce em um país, você tem a nacionalidade inerente àquela nação. Eu mesma nunca vi, por exemplo, nenhum canadense, mesmo que de pais franceses ou irlandeses, não proferisse orgulhosamente sua nacionalidade quando solicitado. Por que então ocorre esse fenômeno de omissão da própria origem nos brasileiros? Por que motivo é tão vergonhoso ser brasileiro?
Não serei hipócrita; já disse e repito quantas vezes me for solicitado que um de meus sonhos é morar na Inglaterra. Mas não é por isso que, se por ventura para lá me realocar, ocultarei minhas origens.
Agora, será que a culpa é do Brasil em si ou do brasileiro? Não é novidade para ninguém que o povo brasileiro advém de uma miscigenação racial incomparável... Mas descendência não é nacionalidade.
Que culpa tem nosso país em si para termos vergonha dele? Temos o maior reservatório de água no mundo, praias belíssimas, climas diversos e vegetações luxuriantes. Não há problema nenhum com a terra, então.
 Certamente, se eu estivesse me dirigindo diretamente a um grupo de pessoas, alguém contrariaria meu raciocínio argumentando que tudo no Brasil vira em "pizza" , que a política é caótica, assim como a saúde, a educação, a segurança, a distribuição de terras e de renda.
Mas, meu caro, diga-me então: quem é que compõe o Brasil?
Os brasileiros.
Em todas as suas facetas, não é mesmo?
Sim.
Então não seria ele responsável pela situação atual de nosso país? E ter vergonha do Brasil, em última análise, não seria então ter vergonha de si próprio?
Ah.
Parece óbvio, mas não é.
Espero que o "tal Pedro" não tenha gasto muito suas cordas vocais, pois, aparentemente, foi em vão. Continuamos dependentes de Portugal, assim como da França, dos Estados Unidos, da Inglaterra...

2 comentários:

Junie Nunes de Souza disse...

Penny for president! :)

Nossa... Devorei cada palavra que você escreveu e enxerguei a realidade nua e crua. Mas nunca tinha parado para refletir sobre o motivo de os brasileiros não se assumirem como brasileiros mesmo. É algo interessante a ser estudado! Acho que simplesmente as pessoas lavam as mãos e é aí que surge a oportunidade de uns "espertinhos" roubarem a cena e tudo o mais que for possível... Bom, sei lá.

* Adorei o novo design do seu blog! :)

Anônimo disse...

tem uma amiga minha que exemplifica muito bem isso que você disse... Ela teoriza chamando de "Estrangeirismo ufanista" e como nós brasileiros, em sua maioria, é preocupado em procurar um desvencilho se quer com nossa pátria. Atitude no mínimo digna de pena, ocorre com muitos, e poucos são os que percebem que não é aquilo que provem desde você, mas sim o que você é agora e o que faz para mudar que importa.

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